domingo, 10 de agosto de 2008

(Des)cansaço

Acordei de um sonho em que eu explicava para um amigo gay a organização de cores do meu roupeiro. Me senti um pouco fútil. Quem sonha com isso?
Levantei,fui ao banheiro. O dia não havia terminado de clarear, eram seis da manhã. Seis da manhã de uma manhã fria. Voltei para minha cama quente com uma coisa fervilhando na cabeça.Àquela hora, muitas pessoas já estavam em plena atividade. Acordavam às cinco da manhã, preparavam o café, alimentavam seus muitos filhos, preparavam-nos para a escola, ajeitavam brevemente a casa e saíam, naquela manhã fria, para gastar duas horas num ônibus lotado até o trabalho. Trabalho,trabalho, almoço,trabalho,trabalho. Cansaço. Duas horas num ônibus ainda mais lotado que o anterior para voltar para casa. Banho, seu e dos filhos. Novela. Cama: finalmente acabou-se o dia.
Às vezes eu desejava ser um desses trabalhadores. Desde a Revolução Industrial se sabe que trabalhadores cansados e automatizados não têm tempo para pensar e evitam rebeliões. Às vezes, "ser intelectual dói", diria Alyne Durel. Eram seis da manhã de uma manhã fria e eu não podia deixar de escrever tudo o que eu estava pensando.
Se eu fosse um trabalhador braçal, não ia me preocupar com as questões políticas do país. Ia ouvir o Jornal Nacional sem muita atenção. Não ia criticar os clássicos: ia ler no máximo romaces populares e acreditar numa vida um pouqinho melhor. Não ia perder horas decidindo em que restaurante jantar e mais horas decidindo o que escolher. Ia estar morta de fome e comer o que estivesse no prato. Não ia reclamar que essa cidade não tem nada pra fazer. Não ia ter nem tempo pra lembrar. Enfim, a vida ia ser mais fácil.
Será?
Desliguei o abajur, ajeitei meus cabelos no tavesseiro, que eu tinha feito escova ontem e não queria estragá-la.
Eu já ouvira muitas vezes que vocês são a elite desse país". E eu sabia que nunca seria trabalhadora braçal. Provavelmente por isso desejava estar fisicamente cansada o suficiente para botar a cabeça no travesseiro e dormir, dormir como um trabalhador braçal.

3 comentários:

John, O Lobo disse...

Eita vontade de carpi um lote!
Heheuh

Mas nem precisa ser um trabalhador braçal pra afogar os pensamentos em cansaço. trabalhar e estudar até a exaustão pra manter a cabeça ocupada é algo bastante recorrente.

Ilana Kenne disse...

Cansaço mental, ainda que muito cansativo (XD), definitivamente não é igual a cansaço físico...

Nanda disse...

Verdade.

Mas cansaço físico geralmente passa. Cansaço mental, nem sempre.

Anyways, fico feliz por não ser nem da elite intelectual e nem da camada operária desse país.